Vegetarianismo é o novo Prius  
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Publicado sábado, 20 de janeiro de 2007, por The Huffington Post

Vegetarianismo é o novo Prius

por Kathy Freston
 
O presidente norte-americano Herbert Hoover prometeu "um frango em cada panela e um carro em cada garagem". Com os alertas sobre o aquecimento global se tornando cada vez mais freqüentes, muitos estão pensando duas vezes antes de comprar um carro para a sua garagem. Entretanto, aparentemente eles deveriam se preocupar mais com os frangos do que com os carros.

No mês passado, as Nações Unidas publicaram um relatório sobre a criação de animais e o seu impacto no meio ambiente, cuja conclusão é surpreendente: "o setor de criação de animais é um dos dois ou três fatores mais relevantes para os críticos problemas amientais. Isso é verdade desde em termos locais e regionais, até em termos globais". Em outras palavras, a criação de animais para abate e consumo é um dos maiores culpados da degradação da terra, poluição do ar, falta de água potável, poluição da água, perda de biodiversidade e, claro, aquecimento global.

Sim, você leu certo. Aquecimento global. Provavelmente você já conhece a história: a emissão de gases como o gás carbônico (dióxido de carbono ou CO2) contribuem para o efeito estufa e estão mudando o clima do nosso planeta. Os cientistas alertam para a piora nas condições climáticas, bem como mais inundações costeiras, epidemias em âmbito global e extinções em massa de espécies vivas.

Ou seja, quando você sair de casa e se perguntar por que o inverno está tão quente, você pode se perguntar também o que você comeu no jantar da noite passada. O relatório da ONU afirma que quase 20%, ou um quinto, de todas as emissões de gases do efeito estufa são originárias da criação de animais, isto é, dos frangos citados por Hoover, bem como porcos, gado e outros animas. A quantidade de emissões geradas pela criação de animais é maior do que a soma da emissão causada por todos os meios de transporte existentes no mundo.

Durante uma década, a imagem de Leonardo DiCaprio dirigindo seu Toyota Prius com motor híbrido se tornou o principal ícone em termos ambientais. Esses veículos movidos a gás se tornaram verdadeiramente um símbolo do poder que os consumidores tinham para combater o aquecimento global. Basta pensar que esse carro cortaria suas emissões pela metade, em um país responsável por 25% das emissões mundias de gases do efeito estufa.

Propostas de normas nacionais de economia de combustível ficaram mofando no Congresso e a quilometragem média dos veículos baixou para o seu nível mais baixo em décadas, mas o Prius mostrou às pessoas que havia um caminho alternativo. Toyota não conseguia importar carros em quantidade suficiente para atender à demanda.

No ano passado, pesquisadores da Universidade de Chicago tiraram o foco sobre o Prius quando eles decidiram direcionar seu olhar para uma outra fonte que é um ávido devorador de combustível. Eles notaram que alimentar os animais para obter carne, leite e ovos necessitava de dez vezes mais plantações do que precisaríamos se vivêssemos somente à base de massa primavera, nuggets de soja e outros alimentos vegetais.

Mais do que isso, há a necessidade de transportar os animais a abatedouros, matá-los, refrigerar suas carcaças e distribuir a carne por todo o país. A produção de uma caloria de proteína à base de carne significa queimar mais de dez vezes mais calorias em termos de combustíveis fósseis, ao mesmo tempo em que provoca a emissão de mais de dez vezes mais gás carbônico, quando comparada à produção de uma caloria de proteína à base de vegetais.

Os pesquisadores descobriram que, somando tudo, um cidadão americano comum contribuiria muito mais para reduzir a emissão de gases do efeito estufa através da adoção de uma dieta vegetariana do que a aquisição de um Toyota Prius.

De acordo com o relatório da ONU, a situação piora ainda mais quando incluímos as enormes extensões de terra necessárias para obtermos os nossos bifes e costeletas. A agricultura para a produção de rações representam incríveis 70% de todas as terras produtivas e 30% de toda a superfície terrestre do planeta.

Como conseqüência, a criação de animais é provavelmente a maior causa da derrubada e queima das florestas do planeta. Hoje, 70% da região desmatada da floresta amazônica é usada como pasto, e o restante é utilizado quase em sua totalidade para o cultivo de plantas, como a soja, que servem para a produção de ração animal.

Essas florestas servem como "depósitos de carbono", pois absorvem dióxido de carbono do ar. Queimar essas florestas faz com que todo o carbono acumulado seja liberado, em quantidades que excedem em muito as emissões da queima de combustível fóssil para a criação de animais.

Mas ainda tem mais: o pior vem quando direcionamos nossa atenção aos gases além do gás carbônico (dióxido de carbono ou CO2). Gases como metano e óxido nitroso contribuem de maneira extraordinária para o efeito estufa, possuindo respectivamente 23 e 296 vezes o poder de aquecimento do gás carbônico. Se o dióxido de carbono é responsável por aproximadamente metade dos gases do efeito estufa gerados pela atividade humana desde a Revolução Industrial, o metano e o óxido nitroso (N20) são responsáveis por um terço.

Esses gases extremamente poluentes e danosos ao ambiente vêm principalmente dos processos digestivos dos animais criados, bem como do seu esterco. De fato, enquanto a criação de animais responde por 9% das nossas emissões de dióxido de carbono, ela é responsável por 37% das emissões de metano, e por impressionantes 65% das emissões de óxido nitroso.

É difícil acreditar nisso quando pensamos em um pintinho saindo do seu ovo. Como um animalzinho tão pequeno, tão insignificante com relação à vastidão da Terra, pode gerar tanto gás a ponto de mudar o clima do planeta?

A resposta está nos números. Somente os Estados Unidos matam mais de dez bilhões de animais por ano, só para sustentar uma cultura faminta por carne que mal pode imaginar que, algumas décadas atrás, "ter um frango em cada panela" era uma utopia. Os animais criados para o abate constituem nada menos que 20% de toda biomassa animal da Terra. Em outras palavras, estamos devorando o planeta em que vivemos até que este se acabe.

O que nós estamos vendo atualmente é somente o começo. O consumo de carne aumentou cinco vezes nos últimos cinqüenta anos, e estima-se que irá dobrar de novo nos próximos cinqüenta.

Parece que há uma enxurrada de más notícias, mas na realidade é o contrário. Significa que temos uma nova e poderosa arma para utilizar contra a crise ambiental mais crítica que a humanidade já enfrentou. O Prius foi um passo importante, mas qual é a freqüência que as pessoas compram um carro?

Agora que sabemos que uma dieta mais verde é muito mais eficaz na luta contra o aquecimento global do que um carro mais verde, nós podemos fazer diferença a cada refeição que fizermos: basta tirar todo tipo de carne, frango, ovos etc. dos nossos pratos. Quem imaginaria que uma dieta saudável para o nosso corpo é também saudável para a saúde do nosso planeta?

Tornar-se um vegetariano é uma atitude muito mais poderosa do que dirigir um Prius. Além disso, os frutos dessa atitude chegam mais cedo. O Prius reduz as emissões de dióxido de carbono, que age no aqeucimento global de maneira bastante lenta, levando quase cem anos. Por outro lado, a maior parte das emissões na criação de animais é composta de metano, um gás que é reciclado da atmosfera em questão de dez anos. Ou seja, a redução do consumo de carne se traduz rapidamente na diminuição do efeito estufa, preservando nosso planeta.

Não é só isso: a redução do consumo de carne ajuda a tornar nosso planeta um local mais limpo. A criação de animais é responsável pela maior parte do consumo de água dos EUAgera dois terços do total mundial de amônia, a substância responsável pela chuva ácida, e é a maior fonte de poluição da água do mundo, literalmente exterminando ecossistemas inteiros de rios e mares, destruindo recifes de corais e, claro, levando doença às pessoas.

Tente imaginar a quantidade estratosférica de esterco gerada pelas fazendas atuais: são cinco milhões de toneladas por ano só nos Estados Unidos, ou seja, cem vezes mais dejetos do que toda a população mundial produz, e obviamente muito mais do que a terra pode aceitar. Os imensos esgotos que podem ser visto nos campos, poluindo o ar e contaminando a água, fazem com que o desastroso vazamento de óleo do navio Exxon Valdez seja algo insignificante.

Tudo isso pode ser melhorados por nós mesmos, e de uma maneira surpreendentemente fácil: basta deixarmos de lado os nossos galetos e asinhas de frango, e passarmos a consumir hambúrgeres vegetarianos.

E fazer isso nunca foi mais fácil. Os últimos anos presenciaram uma explosão de alimentos vegetarianos, que não prejudicam o meio ambiente. Mesmo grandes cadeias de lanchonetes e restaurantes, como Burger King, Ruby Tuesday e Johnny Rockets oferecem deliciosos hambúrgeres vegetarianos e as prateleiras dos supermercados estão cheias de leite de soja, benéfico ao coração, sem contar os inúmeros produtos vegetarianos prontos para consumo.

Comida vegetariana se tornou o menu principal em encontros ambientais e conquistou inúmeras celebridades, tais como Bill Maher, Alec Baldwin, Paul McCartney e, claro, Leonardo DiCaprio, que se transformaram em ardorosos defensores da comida vegetariana.

Assim como o Prius mostrou que nós temos em nossas mãos o poder para fazer a diferença contra um dramático problema que coloca em risco o futuro da humanidade, o vegetarianismo nos dá uma nova arma para reduzirmos de forma dramática as nossas emissões de gases danosos ao meio ambiente, sendo uma forma ainda mais eficaz e simples de ser feita, além de ser mais acessível a todos e sem dúvida combinar mais com batatinhas fritas como acompanhamento.

Estamos presenciando temperaturas cada vez mais crescentes, calotas de gelo polar que derretem, epidemias de doenças, desastres naturais mais freqüentes e intensos. E o que você vai comer no seu jantar hoje? Acesse www.VegCooking.com para ter ótimas idéias, receitas grátis, planejamento de refeições e muito mais! Veja também a seção de meio ambiente do site www.GoVeg.com para obter informações mais detalhadas sobre os efeitos prejudiciais do consumo de carne ao meio ambiente.


Kathy Freston é autora de livros de auto-ajuda, e é conselheira para crescimento pessoal e espiritual. Ela é autora do livro 
Expect a Miracle: Seven Spiritual Steps to Finding the Right Relationship. Os seus CDs, que oferecem guias para a meditação, foram apresentadas em W, Self, e Mode. Tanto Kathy quanto seu marido, Tom Freston, dividem seu tempo entre Nova Iorque e Los Angeles.

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